29 de novembro de 2008

Kosmische Kosmetik II

Motorik: Motor skill: 2 por 2. Em sucessivas e livres depurações é possível sintetizar a alma musical de Michael Rother. É possivel sintetizá-la, mas nunca contextualizá-la. O guitarrista e teclista co-fundador de colossos musicais como Neu! ou Harmonia, gigantes da inovação musical alemã dos anos 70 e que ainda hoje são refrescantes como da primeira vez que se fizeram escutar, é um músico eclético e ímpar. O álbum Sterntaler, segunda obra a solo datada de 1978, prova-o inequivocamente. Produzido pelo mestre Conrad Plank, aqui se encontram as paisagens e os patchworks que o definem. Rítmos maquinais, como se avançássemos por uma interminável autobahn, ladeada de arvoredo / ladeada de indústria, melodias hipnóticas e uma permanente atmosfera de fuga. Ao real, aos outros, ao nosso lado vulgar...
O disco começa como um prolongamento do mais emblemático dos Neu!. A batida mecânica que dita o ritmo a forçar-nos a entrar na viagem e a guitarra hesitante a abrir caminho, até que um refrão sem voz, feito de um riff magnânimo dá o mote para o que todo o álbum nos oferece: música que é alegre e triste ao mesmo tempo. Que pode ser ouvida como viagem interior nos confins de um quarto escuro, ou a avançar determinadamente por uma estrada inundada de luz. É assim Sonnenrad. Segue-se Blauer Regen, composição esmagada pelas guitarras, suaves mas melancólicas, austeras no minimalismo, mas sempre emotivas. Stromlinien movimenta-nos novamente. Mais uma jornada dentro da nossa mente, melodicamente irrepreensível, que parece permitir-nos olhar a paisagem que se espraia perante nós apenas uma vez, pois é preciso continuar, é preciso que nos movimentemos. É preciso avançarmos em direcção a algo. Sempre. Até ao fim. Eis que chega Sterntaler, peça feita de um deslumbramento quase infantil, pejada de electrónica que quase se respira como uma brisa outonal e cuja melodia é deveras encantatória. É música feita descoberta, um regresso ao despojamento em que o sentir se sobrepõe ao pensar. É impossível definir Fontana di Luna recorrendo a outro termo que não seja o que o próprio título encerra. Um xilofone lunar, uma atmosfera reconfortante, quase um regresso ao útero... mas com um coração que pulsa inexoravelmente. Orchestrion encerra a edição original do álbum, colocando uma vez mais o ritmo no horizonte, como se corressemos em direcção ao Sol mesmo sabendo que não o podemos tocar. Seguem-se 3 faixas na reedição do disco, datada de 1993: Lichter von Cairo, Patagonia Horizon e Südseewellen. Não sendo totalmente descaracterizadas da edição original de Sterntaler, apresentam-se como um complemento maioritariamente electrónico e de cariz ambiental às composições mais sensoriais e emotivas do original. Ideal para quem queira prolongar a viagem onírica ou meditativamente...