26 de março de 2009

Danse Macabre


Richard D. James possui uma fisionomia sui generis. Através de vários alter egos, dos quais o mais conhecido é Aphex Twin, tem-nos brindado na última década e meia com alguma da música electrónica mais vanguardista e, ao mesmo tempo, mais demencial que há memória. Temas cerebrais como Didgeridoo ou Ventolin são uma mescla de ritmos vertiginosos, oceanos de distorção e samplers abrasivos. Outros, como Blue Calx ou Windowlicker surgem como devaneios mais ambientais e sedutores, mas não menos intrusivos. Como se algo não batesse certo no meio da aparente bonomia... O 2º tema deste último EP, intitula-se simplesmente ΔMi−1 = −aΣn=1NDi[n] [Σj∈ℂ{i}Fij[n − 1] + [Fexti[[n−1]]]] e é conhecido mais prosaicamente como Mathematic Equation. Nesta peça, o rosto de Aphex Twin surge materializado sob a forma de um Espectrograma. O Espectrograma é, essencialmente, um medidor de sinais fonéticos e da sua variação. Engenhosa e subliminarmente, Richard D. James consegue subverter o que geralmente é apenas uma cascata de cores e oscilações, inserindo a sua imagem como se o próprio som a originasse. A imagem formada nessa análise espectral encabeça este texto.
Desbravando a música de James, experienciamos um especial agrado em causar inquietação e injectar pequenas doses de terror em quem a ouve. Há um sentimento latente de algo maléfico que parece espreitar por trás de cada inflexão rítmica ou mesmo da acalmia enganadora dos temas. Se esta ansiedade induzida flutua ao redor do ouvinte, a nível visual o efeito não é menos inquietante. Comecei por dizer que Richard D. James é dotado de uma fisionomia muito especial. Um facies de contornos pouco vulgares, talvez. Ao distorcer esse rosto e ao colocar-lhe um permanente sorriso charmosamente demoníaco, resultam vídeos que têm tanto de arrojado como de curtas-metragens de terror desenroladas numa câmara de torturas electrónica. Come To Daddy e Windowlicker, ambos realizados magistralmente por Chris Cunningham, serão provavelmente dos clips mais perturbadores alguma vez produzidos. Podemos sorrir perante alguns dos exageros, mas uma ligeira sensação de estranheza ficará a pairar no limite desse sorriso...