11 de julho de 2010

Lusofonia III

Esquisitos demais quando apareceram, ostracizados pelo nacional-conservadorismo e apaparicados por uma certa vanguarda rive-gâuche, é reconfortante saber que os Pop dell' Arte ainda cá estão. O recentemente editado Contra Mundum pode já não recuperar o onirismo surrealista e demencial de Free Pop ou a perfeita pop vanguardista de Sex Symbol, mas é uma obra solidamente blasé de um colectivo que transformou radicalmente o panorama musical luso.
De tudo quanto foi feito, do inestimável legado que os Pop dell' Arte deixaram à nação, vale a pena relembrar Querelle, de 1987. Uma secção rítmica de excepção, poderosa e infiltrante, quase a roçar os Can, e os murmúrios áspero-aveludados de cabaret decadente do incomparável João Peste foram uma lufada de ar fresco no, até então, sempre previsível rock em português. Por essa altura, a magnânima editora Ama Romanta dava os seus primeiros passos como entidade divulgadora da música mais aventureira, radical e futurista feita em Portugal e o Bairro Alto via Frágil, Três Pastorinhos ou Nova era poiso obrigatório para a falange que tinha um pé na vanguarda e outro no hedonismo. Respirava-se algo novo, mais tarde haveria de aparecer a saudosa revista K e Portugal prometia algo, mesmo que vago. Algo que, apesar da belíssima música que ainda brota, por vezes, do burgo, não veio a cumprir. Mas nunca é tarde...