25 de agosto de 2010

Kosmische Kosmetik XVI

No princípio, os Wallenstein davam pelo nome de Blitzkrieg. Blitzkrieg era já o nome de uma banda britânica. O dilema resolveu-se ao primeiro álbum. Os Wallenstein editaram-no em 1972, baptizando-o com a sua abandonada designação.
Blitzkrieg é o disco que assiste à junção entre o krautrock e o rock sinfónico. A prova dos nove tira-se de imediato em Lunetic, mescla frenética de guitarras inflamadas e teclados classicistas. É a sinfonia espacial perfeita. Jürgen Dollase e Bill Barone são a verdadeira deutsche-amerikanische freundschaft, o alemão atacando o órgão como um Bach em fuga para Marte, o americano golpeando a guitarra até a deixar em carne viva. Lunetic dá cabo de qualquer amante do género logo à primeira, por mais calejado que esteja nestas lides.
The Theme retira-nos da rota de colisão com a cintura de asteróides. É uma quase-canção, imersa na doce tepidez dos instrumentos e que nos envolve no aperto suave do seu amplexo. O clímax surge num solo de guitarra imenso e avassalador de Bill Barone, que transforma a dita num paiol de pólvora.
A rota prossegue com Manhattan Project. A excelência dos músicos é inolvidável. Se Dollase e Barone detém a paleta e o pincel que coloram as belíssimas composições, a espinha dorsal rítmica composta pelo baixista holandês Jerry Berkers e pelo baterista germânico Harald Grosskopf alcança momentos de magistral fluidez e complexidade. Atente-se neste terceiro tema e na inebriante cadência que o percorre durante grande parte da sua duração. É algo majestoso e misterioso em simultâneo. O mellotron, arrastado e minimal, agudiza o efeito espacial da peça. Por fim, soltam-se as amarras à guitarra, que faz a música resplandecer e rejubilar antes dos últimos raios do seu ocaso. E é um privilégio poder experienciar tudo isto!
O quarto e último momento do disco chega com Audiences. É mais uma semi-canção, iniciada em tom plácido ao piano, que estoura momentos depois num frenesim minimal e cerebral de instrumentos que marcham alinhados sobre nós. O fim é lento e compassado, trazendo a canção de volta e despedindo-se de nós com a pompa e circunstância de uma cantata lunar.
Antes de reclamar o silêncio, resta dizer que Blitzkrieg é um disco grandioso, extremamente bem tocado e preenchido por momentos absolutamente magistrais.