24 de novembro de 2010

Expo 70

O objecto voador identificado como Expo 70 é uma one man band veiculada por Justin Wright, californiano amante de cavalgadas cósmicas. Em rotação desde 2003, o projecto tem concebido gravações em catadupa, carregando já o peso de mais de 12 álbuns lançados, muitos deles em edição limitada e feitura artesanal. O segredo é simples, a estética complexa. Reside sobretudo na criação de longas peças instrumentais em improviso, perpétuos drones que descendem em linha directa do space rock ou da primeira e mais hermética vaga da kosmische musik. A música é sempre meditativa, minimalista, transcendental. Materializa-se do nada e evapora-se sem sabermos qual é o fim. Podemos atirar nomes, como quem lança cartas num truque de ilusionismo: Klaus Schulze, Kluster, Tangerine Dream, Hawkwind, Brian Eno, Sunn O))), Pink Floyd... Expo 70 é tão somente mais uma designação a juntar a esta metafísica congregação.
Os títulos e a imagética também não iludem. Infinite Macrocosm, Galaxy of Misticism ou Journey Through Astral Projection são discos que prometem o que cumprem: Longos minutos de abandono e hipnose sonora, para mentes disponíveis que procurem vaguear sem destino. As capas, apelativas simbioses de desenho e fotografia, de real e de imaginário, remetem-nos imediatamente para o grafismo garrido e psicadélico das edições da Brain, Ohr ou Sky na longínqua mas imortal década de 70. A quase totalidade do design é da autoria de Justin Wright, nitidamente um artista que depura no seu tempo o melhor de outro tempo. Tudo para seguir com maior detalhe em http://www.exposeventy.com/.
Um último parágrafo para destacar o mais recente (e soberbo!) lançamento deste projecto: Where Does Your Mind Go?. A avaliar pelo som que lá está guardado, para todo o lado e para lado nenhum em simultâneo. O álbum é constituído por quatro longos temas, quatro trajectos cósmicos e planantes, em que a noção do tempo é deliciosamente perdida. Podemos ouvir 10 minutos de uma peça e ter a sensação de que ela ainda agora começou... A música paira, como névoa, esticando e encolhendo os seus limites, convidando-nos tanto à abstracção como a esgueirarmo-nos para o portal que ela entreabre subliminarmente. A escolha é do ouvinte. Eu prefiro a segunda hipótese, bastando apenas seguir o conselho que dá título ao primeiro tema: Close Your Eyes and Effortly Drift Away...