13 de março de 2011

Garage Days

Há algo de puro e libertador no rock de garagem dos anos 60. Algo de genuíno, virginal até. Antecâmara do punk, caminho de cabras para o psicadelismo, muito do Garage Rock continua a soar tão fresco hoje como há quatro décadas atrás. Tudo graças a artistas e obras que primavam pela irreverência e pelo imediatismo, por jogarem mais com o coração que com a cabeça. O som era crú e primário. Não elaborava as emoções, entregava-as em bruto. Como se o caldeirão efeverescente e hormonalmente instável de uma mente adolescente fosse traduzido musicalmente.
São óbvias as referências dos blues e da forma como eles foram tratados pelos Rolling Stones no primeiro álbum - homónimo - dos Electric Prunes. A música é carnal e sensitiva. No entanto, há algo de transcendente e profano que transforma esta obra primogénita num dos embriões do psicadelismo. I Had Too Much Too To Dream (Last Night) e Get Me To The World On Time são dois clássicos intocáveis, duas das melhores canções dos sixties. A primeira é um clássico absoluto, a placenta do psicadelismo, omnipresente nas compilações do género e absolutamente genial, com uma fuzz guitar a zunir e outra a ecoar como violinos atrás da urgência da voz. A segunda é um exercício pulsante e intenso, um rush emergente e contagiante, de guitarras picadas, voz em lunático crescendo e ritmo sudoríparo.
Construído a propos destes colossais singles, The Electric Prunes apresenta muito mais que complementos às suas duas referências. Destaca-se, aliás, por ser um álbum bastante eclético e que percorre paisagens sonoras variadas, do típico rock de garagem de Try Me on For Size e Are You Lovin' Me More (But Enjoying It Less) ao vaudeville de About a Quarter to Nine e ao psicadelismo polvilhado de jazz do excelente Train For Tomorrow. Sold to the Highest Bidder acelera as guitarras até parecermos estar perante um adulterado agrupamento folclórico grego e não ficaria deslocado num disco dos Beirut ou A Hawk and a Hacksaw. A balada Onie merece idêntico destaque e constitui o momento mais delicado do disco, um sentido monumento ao amor na fase do Clearasil.
Após uma carreira algo errática, os Electric Prunes ainda perduram, essencialmente como banda de concertos, mas este primeiro assomo de 1967 é a sua criação de referência. Um disco que parece ter bebido da fonte da eterna juventude e ideal para satisfazer jovens de espírito.